Friday, April 18, 2008

TEM O PRAZER DE APRESENTAR:

DÔTO TONHO

EM SEU CD DE ESTRÉIA

PESCADOR


CAPA


desenhos e arte : paul constantinides
fotos : melissa maurer

CADERNO


Tray card / externo
Tray card / interno





AS CANÇÕES
(LETRAS)


01. PESCADOR

( Oviedo & Constantinides)


Já mergulhei em águas escuras

Mas nunca encontrei alguma pérola

Quando na superfície fitei a lua

Me contentei com o que ela era

Prata do céu escuda a lua

Fere meus olhos sua brancura

Nas ondas paredes me atravessam

Meu corpo suspenso te procura

Ode de um rei, a criatura

Nas barbas do rei a tua busca

Serei este rei, uma sereia

Onda do mar que dá na areia

Flutua nos versos o mar destes ares

De descobrir mantos de mares

De invadir a nata escura

Curar a doença e todos os males

Como uma flor morta que bóia

E some em si tão singular

A mente move o infinito

É todo amor que agora sinto

Tem um deserto atrás do morro

Morro de dor só por saber

Que onde mora esta saudade

Mora também o meu querer

Não subo estas ondas, nem estes vales

Sou limitado, sem vaga, sem lume

Pedaço de tudo, um cume

Que se afunda na mágoa some

Se o meu nome perpetuar

Quero no ar ele te dar

Todos os seus dissabores

Levar ao leito e deles tratar


02.TEIAS

(Oviedo & Constantinides)

nosso casamento

tem amor e também medo

medo de ficar sózinho

diante do espelho

a poeira do deserto

vai cobrindo nossos móveis

e ficamos tão imóveis

nosso amor nos destruindo

você fala em ter dois filhos

um castelo e um destino

eu coloco os jornais

pra substituir os vidros

chupo o sangue do dedão

olho a rua sem sentido

tanta tinta resolvida

me aborrece o teu carinho

vou colher as violetas

quero ver o sol se por

quero ir até o rio

e talvez o interior

brumas vindas da soleira

chão de taco cor castor

vamos dividir a ilha

e partir sem um rancor

e piscina é tão bonita

foi o que você falou

vamos procurar o espelho

ele ainda não quebrou

vamos desenhar imagens

nesse velho cobertor

deixar ele mais bonito

talvez salve o nosso amor


03.VIOLA CAIPIRA

( Oviedo & Constantinides)


Eu procuro uma pastora

Para me enamorar

Pode ser filha de Dita

Ou Maria do arraial

Pode ser de Boa Vista

Alta Vista ou Alto lá

Onde o sol nunca se cansa

de por lá ir visitar

Eu procuro uma pastora

Para me enamorar

Tem que ter fibra nos olhos

E coragem pra voar

Mais de mil, doze mil milhas

O que a mente imaginar

Por que se o mundo for pequeno

Não tem como viajar

E o que faco é o que penso

Eu o que quero é encontrar

Uma pastora nestas bandas

Para me enamorar

Minha viola dá um suspiro

E o sol se vai pra lá

Quero ter sorte no amor

E a fortuna do teu olhar.





04.A SUA FLOR

(Oviedo & Constantinides)


A bela flor que você leva

A flor do corpo de lábios quentes

Quero tocar com a minha mão

Quero beijá-la mansamente

Quero deixar na sua flor

A minhar dor, minha semente

E que tudo mais

Vá para o céu urgentemente

Que tenha luz, que seja atroz

Como o amor, como a gente

A bela flor que você leva

Impera em mim, me faz carente

A sua flor da cor de Deus

Acorda o homem que sou eu.


05.LEGIÃO DAS MULHERES

(Oviedo & Constantinides)

Trate bem das mulheres

Nao deixe faltar a grana

Senão elas saem pela janela

Te deixam sózinho na cama

Mulheres surgem do nada

E fazem tudo demais

Se algo sair errado

Nos tratam como animais

Lavar o prato e o fogão

Viúvos da solidão

De coração apertado

Olham a sujeira do chão

Mulheres tantas mulheres

No corredor do hospital

A mãe moderna transcende

Te enfia a faca e o punhal

E surge o novo mundo

É de igual pra igual

Se você ficar confuso

Te atolam inteiro no pau

Mulher oh bela figura

De corpo descomunal

Um verdadeiro demônio

De rosto angelical

Deus que nos deu as mulheres

Nos fez capazes de amar

Sera que seremos capazes

De não de novo errar.

06.COMO NINGUÉM

(Oviedo & Constantinides)

Há um homem sozinho

No balcão de um bar lotado

Que não olha pra ninguém

E seus olhos aguados

Demonstram bem

Que como nunca

Ele precisa de alguém

Como ninguém

Como ninguém

Sua mão segura

Um copo vazio

E o vazio está cheio de ar

E as recentes notícias

De um corpo que cai

É que o amor, baby

Não deve matar

Como ninguém

Como ninguém


07.SOL BRILHANTE/NOITE ETERNA

(Oviedo & Constantinides)

Quando vagalumes deitam na janela

E dizem desse amor quimeras

Diz o dicionário é meu amor

Esse amor tão visionário

Quando borboletas surgem da floresta

É delas que quero dizer

Falar que é mistério

O mais sincero

O mais terno alvorecer

Vem que fica longe

Onde eu vou viver

Viver devagarinho

O amor com você

Diz que não é tarde

A tarde ainda tarda

A estrada é muito larga

Não dá pra se perder

Perder se outro mundo

Está a se oferecer

Mostrar outra verdade

Mostrar o meu querer

Querer é quase tudo

E tudo muito além

Além do sol o escuro

O escuro a aquecer

A fina luz da vela

Que nos leva a ver

E do teu olho o brilho

Rebrilha o meu ser

Conversa de cochicho

Carinho tudo a ver

Vem que fica longe

Onde eu vou viver

Viver devagarinho

O amor com você

Mostrar outra verdade

Mostrar o meu querer

Querer é quase tudo



08.RIO AINDA

(Oviedo & Constantinides)

O meu vô pescou no rio

O meu pai pescou no rio

Eu pesquei quando menino

Paraíba,

E o meu filho não ainda

Olho o rio

Dá tristeza

E o meu pranto

É a correnteza

Que se move infinita

Nunca para o Paraíba

Tarde a ponte poente

Andorinhas sobre a gente

A cidade não te explica

Suja sempre as tuas águas

Paraíba

Lembro o dia que meu pai

Olhou pro rio a sonhar

Apontou o horizonte

Filho este rio vai dar no mar

E a amargura reunida

Olhando o rio dia a dia

Vejo o lixo que se destina

Ao atlântico em romaria

O meu vô pescou no rio

O meu pai pescou no rio

Eu pesquei quando menino

Paraíba,

E o meu filho não ainda


09.DESPEDIDA

(Oviedo & Constantinides)

Sou eu quem estou partindo

Com o que restou de mim

Roupas velhas e alguns discos

Na estrada que não tem fim

Sou eu quem esta ficando

Olhando a sombra na parede

as lágrimas enxugando

E me sentindo indiferente.

Sigo em frente decidido

Tento não pensar em você

cada passo é um martírio

Mas vou tentar te esquecer

Não chego perto da porta

Nem abro a janela ao luar

Não queria te perder

Mas não posso te perdoar

Eu vou pelos vales da lua

Pelas ruas longe do lar

E tudo em minha volta

É vazio, sem um lugar

A casa está tão vazia

A cama tem o nosso odor

Vou vestir uma fantasia

Ficar sózinha eu não vou.

Mas esta noite

quando as estrelas eu contemplar

Vou pensar no seu sorriso

E vou nele viajar.

E vou nele viajar

Com os olhos fechados

Vou sentir o seu calor

Esta é a maldição

De perder o seu amor


10. É BOM SABER

(Oviedo & Constantinides)

Ô meu

dê um sorriso

vem mais tarde o impossível

não temos um só paraíso

o melhor lugar é onde eu fico

e seja pobre

ou seja rico

o destino vai ser

o que você bem entender

porque a porta é entreaberta

só passa nela quem quer saber

e é bom saber

ô meu

é bom saber

que a vida é repentina

o que o tempo dá ele tira

o melhor momento é este agora

e é bom saber

11. PELE D’AGUA

(Oviedo & Constantinides)


Pele d’água

O rio guarda

Na ribanceira a beira

Pele d’água

O rio guarda

Na profundeza a veia

O rio corre e desliza

É corredeira em si

Vai minha gente avisa

É o Paraíba sem fim

Pingo d’água

A chuva guarda

Na nascente a semente

Pingo d’água

A chuva guarda

O temporal anual

O rio corre e desliza

É corredeira em si

Vai minha gente avisa

É o Paraiba sem fim

Rio que corre na serra

Rio que morre no mar

Estrada do Imperador

Entranhas do Vale senhor

Homem de pé na canoa

Assombra o sol sonhador

Pisa no rio descalço

Sonha a cidade sem dor



SOBRE OS AUTORES DAS CANÇÕES

Foto tirada no aeroporto de Miami em junho de 2007, por um passante, no encontro de poucas horas que os parceiros tiveram depois de não se verem por mais de sete anos.

Toninho tocador de blues das noites de Jacareí conhece Paul que gosta de escrever versos. Paul escreve Como Ninguém que Toninho faz virar canção da noite pro dia. Nasce a parceria. O grito de socorro de Rio ainda é selecionado num concurso e gravado pela Orquestra de Viola Caipira do Vale do Paraíba. Pescador, Pele d’ água seguem o mesmo curso suplicante e inspirador do rio. Navegantes da lua, músico e poeta vão descendo por todos os rios e desembocando em outras canções: Legião das mulheres, Sol brilhante, Noite eterna. Canções do tempo de um lugar.
Batizada Constantinides e Oviedo, a dupla deixa o Vale, mas não a parceria.
Faz oito anos que Paul retornou para sua cidadania americana e vive agora em Miami onde segue produzindo suas letras, fotos, desenhos, idéias e sentimentos. Toninho tomou sua trilha de blueseiro caipira dividindo agora sua vida e seu som entre o Amazonas e Goiás. Viola Caipira e Despedida nasceram assim, à distância, como este disco que, como eu, você vai ouvir e gostar se gosta de música e poesia, das coisas simples e de se apaixonar...

Eduardo Montagnari.

Maringá. Dezembro de 2007