(LETRAS)
01. PESCADOR
Mas nunca encontrei alguma pérola
Quando na superfície fitei a lua
Me contentei com o que ela era
Prata do céu escuda a lua
Fere meus olhos sua brancura
Nas ondas paredes me atravessam
Meu corpo suspenso te procura
Ode de um rei, a criatura
Nas barbas do rei a tua busca
Serei este rei, uma sereia
Onda do mar que dá na areia
Flutua nos versos o mar destes ares
De descobrir mantos de mares
De invadir a nata escura
Curar a doença e todos os males
Como uma flor morta que bóia
E some em si tão singular
A mente move o infinito
É todo amor que agora sinto
Tem um deserto atrás do morro
Morro de dor só por saber
Que onde mora esta saudade
Mora também o meu querer
Não subo estas ondas, nem estes vales
Sou limitado, sem vaga, sem lume
Pedaço de tudo, um cume
Que se afunda na mágoa some
Se o meu nome perpetuar
Quero no ar ele te dar
Todos os seus dissabores
02.TEIAS
tem amor e também medo
medo de ficar só
diante do espelho
a poeira do deserto
vai cobrindo nossos móveis
e ficamos tão imóveis
nosso amor nos destruindo
você fala em ter dois filhos
um castelo e um destino
eu coloco os jornais
pra substituir os vidros
chupo o sangue do dedão
olho a rua sem sentido
tanta tinta resolvida
me aborrece o teu carinho
vou colher as violetas
quero ver o sol se por
quero ir até o rio
e talvez o interior
brumas vindas da soleira
chão de taco cor castor
vamos dividir a ilha
e partir sem um rancor
e piscina é tão bonita
foi o que você falou
vamos procurar o espelho
ele ainda não quebrou
vamos desenhar imagens
nesse velho cobertor
deixar ele mais bonito
talvez salve o nosso amor
03.VIOLA CAIPIRA
Eu procuro uma pastora
Para me enamorar
Pode ser filha de Dita
Ou Maria do arraial
Pode ser de Boa Vista
Alta Vista ou Alto lá
Onde o sol nunca se cansa
de por lá ir visitar
Eu procuro uma pastora
Para me enamorar
Tem que ter fibra nos olhos
E coragem pra voar
Mais de mil, doze mil milhas
O que a mente imaginar
Por que se o mundo for pequeno
Não tem como viajar
E o que faco é o que penso
Eu o que quero é encontrar
Uma pastora nestas bandas
Para me enamorar
Minha viola dá um suspiro
E o sol se vai pra lá
Quero ter sorte no amor
E a fortuna do teu olhar.
04.A SUA FLOR
A flor do corpo de lábios quentes
Quero tocar com a minha mão
Quero beijá-la mansamente
Quero deixar na sua flor
A minhar dor, minha semente
E que tudo mais
Vá para o céu urgentemente
Que tenha luz, que seja atroz
Como o amor, como a gente
A bela flor que você leva
Impera em mim, me faz carente
A sua flor da cor de Deus
Acorda o homem que sou eu.
05.LEGIÃO DAS MULHERES
(Oviedo & Constantinides)
Trate bem das mulheres
Nao deixe faltar a grana
Senão elas saem pela janela
Te deixam sózinho na cama
Mulheres surgem do nada
E fazem tudo demais
Se algo sair errado
Nos tratam como animais
Lavar o prato e o fogão
Viúvos da solidão
De coração apertado
Olham a sujeira do chão
Mulheres tantas mulheres
No corredor do hospital
A mãe moderna transcende
Te enfia a faca e o punhal
E surge o novo mundo
É de igual pra igual
Se você ficar confuso
Te atolam inteiro no pau
Mulher oh bela figura
De corpo descomunal
Um verdadeiro demônio
De rosto angelical
Deus que nos deu as mulheres
Nos fez capazes de amar
Sera que seremos capazes
De não de novo errar.
06.COMO NINGUÉM
(Oviedo & Constantinides)
No balcão de um bar lotado
Que não olha pra ninguém
E seus olhos aguados
Demonstram bem
Que como nunca
Ele precisa de alguém
Como ninguém
Como ninguém
Sua mão segura
Um copo vazio
E o vazio está cheio de ar
E as recentes notícias
De um corpo que cai
É que o amor, baby
Não deve matar
Como ninguém
Quando vagalumes deitam na janela
E dizem desse amor quimeras
Diz o dicionário é meu amor
Esse amor tão visionário
Quando borboletas surgem da floresta
É delas que quero dizer
Falar que é mistério
O mais sincero
O mais terno alvorecer
Vem que fica longe
Onde eu vou viver
Viver devagarinho
O amor com você
Diz que não é tarde
A tarde ainda tarda
A estrada é muito larga
Não dá pra se perder
Perder se outro mundo
Está a se oferecer
Mostrar outra verdade
Mostrar o meu querer
Querer é quase tudo
E tudo muito além
Além do sol o escuro
O escuro a aquecer
A fina luz da vela
Que nos leva a ver
E do teu olho o brilho
Rebrilha o meu ser
Conversa de cochicho
Carinho tudo a ver
Vem que fica longe
Onde eu vou viver
Viver devagarinho
O amor com você
Mostrar outra verdade
Mostrar o meu querer
Querer é quase tudo
08.RIO AINDA
(Oviedo & Constantinides)
O meu pai pescou no rio
Eu pesquei quando menino
Paraíba,
E o meu filho não ainda
Olho o rio
Dá tristeza
E o meu pranto
É a correnteza
Que se move infinita
Nunca para o Paraíba
Tarde a ponte poente
Andorinhas sobre a gente
A cidade não te explica
Suja sempre as tuas águas
Paraíba
Lembro o dia que meu pai
Olhou pro rio a sonhar
Apontou o horizonte
Filho este rio vai dar no mar
E a amargura reunida
Olhando o rio dia a dia
Vejo o lixo que se destina
Ao atlântico em romaria
O meu vô pescou no rio
O meu pai pescou no rio
Eu pesquei quando menino
Paraíba,
09.DESPEDIDA
(Oviedo & Constantinides)
Sou eu quem estou partindo
Com o que restou de mim
Roupas velhas e alguns discos
Na estrada que não tem fim
Sou eu quem esta ficando
Olhando a sombra na parede
as lágrimas enxugando
E me sentindo indiferente.
Sigo em frente decidido
Tento não pensar em você
cada passo é um martírio
Mas vou tentar te esquecer
Não chego perto da porta
Nem abro a janela ao luar
Não queria te perder
Mas não posso te perdoar
Eu vou pelos vales da lua
Pelas ruas longe do lar
E tudo em minha volta
É vazio, sem um lugar
A casa está tão vazia
A cama tem o nosso odor
Vou vestir uma fantasia
Ficar sózinha eu não vou.
Mas esta noite
quando as estrelas eu contemplar
Vou pensar no seu sorriso
E vou nele viajar.
E vou nele viajar
Com os olhos fechados
Vou sentir o seu calor
Esta é a maldição
De perder o seu amor
10. É BOM SABER
(Oviedo & Constantinides)
dê um sorriso
vem mais tarde o impossível
não temos um só paraíso
o melhor lugar é onde eu fico
e seja pobre
ou seja rico
o destino vai ser
o que você bem entender
porque a porta é entreaberta
só passa nela quem quer saber
e é bom saber
ô meu
é bom saber
que a vida é repentina
o que o tempo dá ele tira
o melhor momento é este agora
e é bom saber
11. PELE D’AGUA
(Oviedo & Constantinides)
O rio guarda
Na ribanceira a beira
Pele d’água
O rio guarda
Na profundeza a veia
O rio corre e desliza
É corredeira em si
Vai minha gente avisa
É o Paraíba sem fim
Pingo d’água
A chuva guarda
Na nascente a semente
Pingo d’água
A chuva guarda
O temporal anual
O rio corre e desliza
É corredeira em si
Vai minha gente avisa
É o Paraiba sem fim
Rio que corre na serra
Rio que morre no mar
Estrada do Imperador
Entranhas do Vale senhor
Homem de pé na canoa
Assombra o sol sonhador
Pisa no rio descalço
Sonha a cidade sem dor
SOBRE OS AUTORES DAS CANÇÕES
Foto tirada no aeroporto de Miami em junho de 2007, por um passante, no encontro de poucas horas que os parceiros tiveram depois de não se verem por mais de sete anos.
Toninho tocador de blues das noites de Jacareí conhece Paul que gosta de escrever versos. Paul escreve Como Ninguém que Toninho faz virar canção da noite pro dia. Nasce a parceria. O grito de socorro de Rio ainda é selecionado num concurso e gravado pela Orquestra de Viola Caipira do Vale do Paraíba. Pescador, Pele d’ água seguem o mesmo curso suplicante e inspirador do rio. Navegantes da lua, músico e poeta vão descendo por todos os rios e desembocando em outras canções: Legião das mulheres, Sol brilhante, Noite eterna. Canções do tempo de um lugar.
Batizada Constantinides e Oviedo, a dupla deixa o Vale, mas não a parceria.
Faz oito anos que Paul retornou para sua cidadania americana e vive agora em Miami onde segue produzindo suas letras, fotos, desenhos, idéias e sentimentos. Toninho tomou sua trilha de blueseiro caipira dividindo agora sua vida e seu som entre o Amazonas e Goiás. Viola Caipira e Despedida nasceram assim, à distância, como este disco que, como eu, você vai ouvir e gostar se gosta de música e poesia, das coisas simples e de se apaixonar...
Eduardo Montagnari.
Maringá. Dezembro de 2007